sábado, 2 de maio de 2009

AFINIDADE...





Afinidade


(por Arthur da Távola)



Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois.


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.


É o mais independente também.


Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.


Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, aconversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.


Ter afinidade é muito raro.


Mas, quando existe, não precisa de códigos verbais para se manifestar.


Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.


Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.


É ficar conversando sem trocar palavras.


É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.


Afinidade é sentir "com",


Não é sentir "contra",


Nem sentir "para",


Nem sentir "por",


Nem sentir "pelo".


Sentir "com" é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.


É olhar e perceber.


É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.


É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto dasimpossibilidades vividas.


Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação.


Porque tempo e separação nunca existiram.


Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida...